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CRENÇAS, JULGAMENTOS, CONSCIÊNCIA E AUTOCOMPAIXÃO

Li recentemente um post em uma rede social que dizia o seguinte:

“O melhor indicador do caráter de uma pessoa é como ela trata as pessoas que não lhe trazem benefício algum”

Trata-se sem dúvida de uma crença e, acreditar que nossas crenças são uma verdade absoluta, é uma faca de dois gumes. Sendo assim, podemos dizer que nossas “verdades absolutas” são relativas. É sobre isso que falaremos…

Um mesmo tratamento pode ter motivadores diferentes e, portanto, distintas intenções positivas. Há de se considerar também que todo comportamento é adequado dependendo do contexto onde está inserido.

Como saber se alguém tratou outra pessoa de certa maneira somente porque ela não lhe trouxe benefício algum? Que benefícios seriam esses e para quem? Será que essa pessoa de “caráter duvidoso”, na perspectiva do observador – o detentor da crença, sempre age da mesma maneira ou poderá ter sido uma eventualidade, uma exceção à “regra”, motivada por algo que ele desconheça, como as suas necessidades e sentimentos? Se a segunda opção for verdadeira, vale dizer que o valor das pessoas é constante mas seu comportamento pode mudar e, portanto, a crença se dará por desarticulada. Desarticulando certas crenças, expandimos nossas possibilidades de ação, nossos pensamentos, estados emocionais e comportamentos mudam, e os resultados podem se aproximar mais daquilo que é realmente importante para cada um nós, e para todos os seres sencientes!

Inevitavelmente cada um de nós, como indivíduos, vive invariavelmente dentro de uma “bolha de realidade”. Sendo assim, nossa percepção, um aspecto da consciência, é nada mais do que “como as coisas se parecem, ou são, para mim”. Daí vêm as crenças que nada mais são que generalizações. O lado positivo disso é que precisamos generalizar para encontrarmos sentido nas coisas, fazer jus à nossa “bolha de realidade” e vivermos em paz, dentro dela. Por outro lado, se confundirmos nossas crenças com “quem somos”, quando essa efêmera bolha de realidade estoura, perdemos referências, e vem o sofrimento pela perda de identidade. Aí os julgamentos, do que é certo ou errado, bonito ou feio, adequado ou inadequado, deixam de ser “verdades absolutas”.  Um bom exemplo é lidar com a demissão de um cargo de alta liderança em uma organização top no ranking “As Melhores empresas para se trabalhar”, ou seja, sair da bolha “Eu sou o líder da empresa X” para o “Quem sou eu?.”, a ponto de ser sequestrado emocionalmente por uma repentina e momentânea contração da consciência dos próprios valores.

Os julgamentos que fazemos de nós mesmos e das pessoas, pelos seus comportamentos, têm a ver com a máxima: “Todo comportamento tem uma intenção positiva por parte de quem age”. A intenção por trás dos comportamentos pode ser de se sentir mais seguro, reconhecido, valorizado, aceito, realizado, feliz, etc,  por uma série de “marcas” inscritas na nossa memória emocional e, também, pelo inconsciente coletivo.  Assim, sempre estamos fazendo o melhor que podemos para atender essas necessidades, das quais, muitas vezes, nem temos consciência. O julgamento é uma forma trágica de manifestarmos nossas próprias necessidades não atendidas, uma vez que estamos falando de si próprios e, portanto, das nossas próprias crenças.

A autocompaixão nutrida pela consciência de que não somos nossos papéis, o resultado do que fazemos, nossos pensamentos, nossas emoções, nem o nosso próprio nome, é o antídoto. Afinal, a cura do veneno está no próprio veneno. A propósito, quem é você?

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