QUEM SOMOS NÓS?
A INTELIGÊNCIA POR TRÁS DOS COMPORTAMENTOS
Todo comportamento tem uma intenção positiva, na perspectiva de quem age, de atender necessidades e valores. Sendo estratégias para atender nosso bem-estar, os comportamentos mudam de acordo com as prioridades e sua efetividade, e não somos, portanto, o que fazemos. O que fazemos é reflexo do que precisamos e de como estamos nos sentindo, a cada instante. O que podemos fazer está além da nossa consciência. A consciência das nossas potencialidades para atender nossas necessidades e valores é fruto da aprendizagem. E consciência não encontramos nos livros, em mestrados, doutorados, no outro, nem nas tecnologias de inteligência artificial. Consciência é experiência!
“Quem olha para fora sonha. Quem olha para dentro, desperta”. Carl G. Jung
PRIMEIRO PASSO PARA O SEU BEM-ESTAR: SEPARE OS FATOS DAS INTERPRETAÇÕES
“Podemos dizer que percepção é a forma muito particular com que as coisas se parecem para cada um de nós. E o que faz com que tenhamos maneiras muito especiais e singulares de percebermos a realidade, e de nos relacionarmos com ela de uma forma muito particular? Vamos resgatar um pouco aquilo que faz parte da nossa natureza:
Desde nossas origens, muito antes de nascermos, a humanidade vem transferindo e atualizando uma memória ancestral por meio de mitos, imagens, ideias, conceitos, crenças, valores e, principalmente, das emoções que “marcam” nossas experiências. Essas formas de apreensão e entendimento da vida, seja pessoal ou profissional, de alguma maneira, estão associadas ao atendimento de necessidades para nos gerar bem-estar psicológico, físico, e também espiritual, numa perspectiva de uma vida com propósito e significado. A congruência dessa perspectiva de vida com nosso trabalho e com a Missão, Visão e Valores da empresa onde trabalhamos, quando for o caso, também é chave para nossa saúde mental e bem-estar da mesma forma!
Durante os primeiros anos de vida, é vaga a ideia de que somos um indivíduo separado de tudo mais e a nossa necessidade de sobrevivência e segurança fica a encargo do seio materno. Essa percepção de fazer parte de um todo maior nos primeiros anos de vida, que é um aspecto da consciência em formação, remete à clássica expressão do Yoga que significa União: “Somos todos UM”.
“A forma mais elevada da inteligência humana é a capacidade de observar sem julgar.”
Jiddu Krishnamurti
À medida que crescemos, passamos a ter consciência de que somos um ser único, um “mix singular” daquilo que faz parte de todos nós seres humanos, que nos conecta, com destaque para os nossos sentimentos e necessidades, que são universais. Na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung chamamos essa identidade de “Consciência do Ego”, ou seja, a ideia e imagem de “quem eu sou” e, também, de “quem eu não posso ser” para sermos funcionais na vida (leia sobre o tema no artigo “A Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung: O papel do Ego no nosso processo de evolução”). E é exatamente aí que está a grande armadilha da nossa mente! Afinal, muito do que passamos, fizemos e realizamos desde que nascemos, se voltássemos no tempo, muito provavelmente não acreditaríamos que seríamos capazes de passar, fazer e realizar! Pensamentos como “EU nunca seria capaz de fazer isso!”, “Nem parecia que era EU!” ou “Não sei onde EU estava com a cabeça!” são fortes evidências que “somos” muito mais do que aquilo que acreditamos ser, um “EU MAIOR” além da nossa consciência! Quando esse tipo de pensamento nos assola e fazemos essas afirmações, estamos nos comparando com a imagem que acreditamos, e precisamos ter de nós mesmos. Porquê? Está certo ou errado? Não se trata disso! Está tudo ok! Considere simplesmente que você é muito mais do que imagina e que, também, sim é capaz de fazer coisas para atender suas necessidades de bem-estar que podem ser, digamos, inconvenientes para alguém e, até para você, dependendo do contexto. O fato é que sempre estamos procurando fazer, através dos nossos comportamentos, o melhor que pudemos para atender nossas necessidades a cada momento. Assim, para convivermos socialmente, seja na vida pessoal ou profissional, é fundamental respeitarmos certos valores éticos e morais para sermos aceitos e, portanto, fazermos parte para nos sentirmos seguros. Como exemplos podemos trazer o pertencimento a comunidades, família, ter amigos, fazer parte de um time no trabalho e assim por diante.
Para compreendermos nossos sentimentos e atendermos nossas necessidades, e também das pessoas com quem nos relacionamos, temas dos próximos artigos dessa série, é importante buscarmos atitudes que nos conectem ao mundo e, portanto, nos tragam bem-estar mental, físico, emocional.
Tudo que não “bate” com nossa autoimagem desejada, o EU idealizado, evitamos, reprimimos, rejeitamos e, atenção, projetamos e “vemos” no outro sem perceber. Daí vêm os julgamentos e a grande oportunidade de você reconhecer quem você realmente é. E só reconhecendo que, em VOCÊ, há muito mais “EUs” do que possa imaginar, que você poderá dominá-los com sabedoria e maestria para encontrar a melhor versão de SI MESMO!
“Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados.”
Mateus 7:1
O primeiro passo para o seu bem-estar: dicas & reflexões
Tudo aquilo que você vê e ouve, ou seja, que é captado pela sua visão e audição, são fatos e eventos observados. Tudo que você pensa e afirma sobre esses fatos, dado por seus julgamentos, avaliações e interpretações, são frutos de imagens mentais construídas a partir do que apreendeu pela experiência. Nos relacionamos com essas imagens porque é assim que percebemos a realidade e isso nos traz uma “sensação de segurança”. A questão é que, quanto mais nos “fixamos” nessas imagens, sobre si próprio, o outro e o mundo em nossas experiências, que apesar de verdadeiras não representam toda a “verdade”, menos autonomia e liberdade de escolha nos permitimos…
Vamos refletir: quando você pensa ou diz que uma pessoa com quem você se relaciona é hostil, por exemplo, procure se questionar, de forma imparcial, e verificar se encontra mais de uma resposta, para as seguintes perguntas:
- Todas as pessoas que fazem aquilo que eu vi e ouvi essa pessoa fazendo são hostis?
- Essa pessoa É hostil ou EU estou me sentindo mal porque avaliei como “hostilidade” o que a vi e ouvi fazendo?
- Essa pessoa É hostil ou ESTÁ agindo de uma forma que a mim parece hostil porque talvez esteja precisando de algo e é o melhor que pode fazer para atender suas necessidades?
- Quando penso e digo que essa pessoa “É” hostil, estou falando de quem, de fato? Dela ou de mim mesmo(a) espelhado(a) nela?
Após fazer esse exercício de reflexão, de forma imparcial, como você se sente quando amplia a “realidade” a partir de outros pontos de vista? Mais ou menos confortável? Bem-estar ou mal-estar?
Nossas emoções e sentimentos, sem dúvida, têm grande conexão com o que é importante para nós e também com os julgamentos, interpretações e avaliações que fazemos de si próprios, do outro e do mundo que nos cerca. Portanto, a posição de observador da “realidade” em que nos encontramos, a cada instante, afeta diretamente nosso comportamento, relacionamentos e bem-estar!
A propósito, qual o olhar que o aproxima daquilo que você deseja para si, para o outro e para o mundo?
“Seja a mudança que você quer ver no mundo.”
Mahatma Ghandi
LIDERANÇA E GESTÃO POR VALORES: A REALIDADE CORPORATIVA DO SÉCULO XXI
Em uma publicação no site www.trendwatching.com, que fala sobre as grandes tendências de comportamento e consumo no mundo, li uma frase que me chamou a atenção:
“As marcas que querem sobreviver iniciarão uma grande jornada para uma real ILUMINAÇÃO, tomando atitudes de significado para melhorar as vidas das pessoas e de todo o mundo”.
O movimento “Capitalismo Consciente” que criou força nos Estados Unidos a partir da crise de 2008, direcionou o foco da atenção para a humanização dos negócios fundamentada na congruência de propósitos individuais e organizacionais como motor da lucratividade corporativa. Vivemos um período de incertezas por questões envolvendo ganância, falta de ética, crise de identidade e medo de perda de credibilidade no mundo corporativo.
“O propósito é a cola que mantém a empresa unida, o líquido amniótico que nutre de vida a força organizacional”
John Mackey e Raj Sisodia
Podemos verificar evidências de um movimento de redefinição de modelos de negócios, gestão e liderança, como a crescente demanda por profissionais da Área de Compliance (Conformidade de normas e regras legais) e as Áreas de Recursos Humanos se reposicionando com áreas de Desenvolvimento Humano e Organizacional, transcendendo a perspectiva funcional dos colaboradores para uma visão integral do Ser Humano, que tem propósito de vida, valores, emoções, sentimentos e necessidades e se comporta e engaja a partir deles.
No entanto, ainda que haja empresas que preservem alguns valores originais de respeito e valorização das pessoas, ou que estejam aderindo à efetiva prática de valores humanos na gestão do negócio, as perguntas que não calam são:
- “Como tornar esse sonho realidade uma vez que se trata de uma profunda mudança de Cultura? ”;
- “Como equilibrar na balança Valores Econômico-Pragmáticos, Valores Ético-Sociais e, principalmente, Valores Humanos e Emocionais? ”;
- “Como assegurar a sustentabilidade dessa mudança respeitando e preservando aspectos positivos da nossa história? ”.
Bem, evidentemente que o caminho da mudança passa invariavelmente pelas pessoas que dão vida às empresas! Como? Através dos relacionamentos e processos por elas criados e executados e, principalmente, de novas maneiras de pensar, sentir e agir diante de uma nova realidade que preservem as necessidades de confiança e segurança.
Ao olharmos para a empresa como um organismo vivo, podemos estabelecer conexões interessantes entre o nosso propósito de vida e valores pessoais e a Missão, Visão e Valores Corporativos. Essa identificação, no entanto, não impactará os resultados caso o “Credo Corporativo” não seja refletido, em forma de respeito às necessidades e aos sentimentos das pessoas, nas interações e relacionamentos em qualquer nível, dentro e fora da organização.
Na década de 20, com mercados pouco competitivos e demanda relativamente baixa, o consumidor era um mero usuário comprador. À época imperavam o trabalho rotineiro e os modelos tradicionais de Gestão por Instrução, o clássico “obedece quem tem juízo”. No comando predominavam os que gostam de falar na primeira pessoa, mandam, fiscalizam e desmoralizam quando algo dá errado. Essa filosofia de gestão é representada com maestria por Chaplin em “Tempos Modernos”, onde valores como produção, conformidade e disciplina rígida motivavam, ou deveriam motivar, as classes laboriosas.
Já no pós-guerra, a partir da década de 60, com a crescente industrialização e aumento de competitividade, o consumidor já passa a ser visto como cliente. O trabalho evolui para um caráter mais padronizado e complexo e passamos à Gestão por Objetivo, comandada por lideranças cuja competência-chave passou a ser a alocação eficiente de recursos. Como valores predominantes nesse período podemos citar a racionalização de processos, motivação por resultados e eficiência.
Vivemos nos dias de hoje uma realidade crescente de mercados mais exigentes e informados, downsizing de estruturas organizacionais, maior complexidade e incerteza. A consciência da interdependência entre os aspectos econômico-financeiros, ético- sociais e humanos e emocionais passa a ser determinante nos modelos e processos de gestão nesse novo e volátil cenário. Nesse sentido, passa a ser preponderante a capacidade dos líderes de conduzir e desenvolver equipes cada vez mais autônomas, conscientes e responsáveis. A capacidade de alinhar a auto liderança, a liderança do negócio e a liderança de pessoas se consolida como o alicerce do Desenvolvimento Humano e Organizacional do século XXI. Aos objetivos de negócio e eficiência, somam-se valores como saúde física e psicológica, segurança e confiança, pertencimento e colaboração, autonomia e responsabilidade e propósito e significado. A atenção e conexão permanente a esses valores e necessidades, refletida na liderança e nos relacionamentos, consolida a identidade e a cultura corporativa!
Assim, a congruência de valores pessoais com os valores corporativos constitui uma oportunidade extraordinária para a construção e sustentabilidade do jeito de ser e fazer, gera um comprometimento extraordinário com os resultados e, portanto, um respeitável posicionamento institucional!
“Os resultados vêm do aproveitamento de oportunidades e não da solução de problemas. A resolução de problemas apenas restaura a normalidade. Oportunidades significam explorar novos caminhos.”
Peter Drucker
O grande e real desafio nesse novo cenário é, portanto, o Desenvolvimento Humano e Organizacional com efetiva congruência e prática de valores. Emerge assim uma nova forma de liderar em que o foco está em simplificar para se adaptar às mudanças, orientar para uma visão estratégica de futuro e conectar o propósito de vida das pessoas à missão corporativa, para que todos se sintam cumprindo sua missão de vida através do trabalho.
“Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida.” Confúcio
Sérgio Azem – Trainer, Palestrante, Mentor e Coach Pessoal e Profissional, Psicoterapeuta Junguiano e Instrutor de Hatha Yoga
Referências:
www.trendwatching.com
Capitalismo Consciente – John Mackey e Raj Sisodia
Gestão por Valores – Simon L. Dolan e Salvador Garcia
CRENÇAS, JULGAMENTOS, CONSCIÊNCIA E AUTOCOMPAIXÃO
Li recentemente um post em uma rede social que dizia o seguinte:
“O melhor indicador do caráter de uma pessoa é como ela trata as pessoas que não lhe trazem benefício algum”
Trata-se sem dúvida de uma crença e, acreditar que nossas crenças são uma verdade absoluta, é uma faca de dois gumes. Sendo assim, podemos dizer que nossas “verdades absolutas” são relativas. É sobre isso que falaremos…
Um mesmo tratamento pode ter motivadores diferentes e, portanto, distintas intenções positivas. Há de se considerar também que todo comportamento é adequado dependendo do contexto onde está inserido.
Como saber se alguém tratou outra pessoa de certa maneira somente porque ela não lhe trouxe benefício algum? Que benefícios seriam esses e para quem? Será que essa pessoa de “caráter duvidoso”, na perspectiva do observador – o detentor da crença, sempre age da mesma maneira ou poderá ter sido uma eventualidade, uma exceção à “regra”, motivada por algo que ele desconheça, como as suas necessidades e sentimentos? Se a segunda opção for verdadeira, vale dizer que o valor das pessoas é constante mas seu comportamento pode mudar e, portanto, a crença se dará por desarticulada. Desarticulando certas crenças, expandimos nossas possibilidades de ação, nossos pensamentos, estados emocionais e comportamentos mudam, e os resultados podem se aproximar mais daquilo que é realmente importante para cada um nós, e para todos os seres sencientes!
Inevitavelmente cada um de nós, como indivíduos, vive invariavelmente dentro de uma “bolha de realidade”. Sendo assim, nossa percepção, um aspecto da consciência, é nada mais do que “como as coisas se parecem, ou são, para mim”. Daí vêm as crenças que nada mais são que generalizações. O lado positivo disso é que precisamos generalizar para encontrarmos sentido nas coisas, fazer jus à nossa “bolha de realidade” e vivermos em paz, dentro dela. Por outro lado, se confundirmos nossas crenças com “quem somos”, quando essa efêmera bolha de realidade estoura, perdemos referências, e vem o sofrimento pela perda de identidade. Aí os julgamentos, do que é certo ou errado, bonito ou feio, adequado ou inadequado, deixam de ser “verdades absolutas”. Um bom exemplo é lidar com a demissão de um cargo de alta liderança em uma organização top no ranking “As Melhores empresas para se trabalhar”, ou seja, sair da bolha “Eu sou o líder da empresa X” para o “Quem sou eu?.”, a ponto de ser sequestrado emocionalmente por uma repentina e momentânea contração da consciência dos próprios valores.
Os julgamentos que fazemos de nós mesmos e das pessoas, pelos seus comportamentos, têm a ver com a máxima: “Todo comportamento tem uma intenção positiva por parte de quem age”. A intenção por trás dos comportamentos pode ser de se sentir mais seguro, reconhecido, valorizado, aceito, realizado, feliz, etc, por uma série de “marcas” inscritas na nossa memória emocional e, também, pelo inconsciente coletivo. Assim, sempre estamos fazendo o melhor que podemos para atender essas necessidades, das quais, muitas vezes, nem temos consciência. O julgamento é uma forma trágica de manifestarmos nossas próprias necessidades não atendidas, uma vez que estamos falando de si próprios e, portanto, das nossas próprias crenças.
A autocompaixão nutrida pela consciência de que não somos nossos papéis, o resultado do que fazemos, nossos pensamentos, nossas emoções, nem o nosso próprio nome, é o antídoto. Afinal, a cura do veneno está no próprio veneno. A propósito, quem é você?