SAÚDE FÍSICA E MENTAL NO TRABALHO: O OVO OU A GALINHA?
Está em alta o tema “saúde física e mental no ambiente de trabalho”, que classificamos como “tóxico” quando as coisas não vão bem e, portanto, ao qual delegamos a responsabilidade por todo o nosso sofrimento enquanto seres humanos no ambiente profissional. A questão é que, ao construirmos na nossa mente a imagem de que o “ambiente de trabalho”, o “mundo corporativo” ou qualquer outra dimensão da “vida laboral”, é “tóxico”, como seria este lugar se dele excluíssemos as pessoas? O que teríamos? Estruturas físicas, máquinas e equipamentos ” vegetando” e, portanto, ausência total de relacionamentos que, em si, determinam a “alma da empresa” e afetam o bem-estar no trabalho! Bem, então, salvo se as matérias primas e insumos que compõem as estruturas físicas e os bens e serviços que produzimos forem tóxicos, de onde vem esta tal toxicidade? Qual a minha, a sua, e de todos mais, responsabilidade por esta “realidade percebida” de um mundo onde ninguém quer viver? Considerando que o nosso bem-estar é condição fundamental para criarmos, produzirmos, nos relacionarmos, batermos metas e darmos resultados para o negócio, estamos portanto sempre fazendo o melhor que podemos para estarmos bem, consigo próprios, com o outro e com o mundo! Assim, é importante discernir responsabilidade de culpa, afinal, se culpar por se buscar, humana e empaticamente, caminhos para o próprio bem-estar não faz sentido. O que faz sentido é assumirmos a responsabilidade, a capacidade de responder, pelas consequências das nossas suposições e decisões, sejam favoráveis ou desfavoráveis ao bem-estar coletivo. Portanto, estar atento aos impactos de curto a longo prazo das formas de pensar, sentir e agir, reconhecendo as próprias imperfeições e vulnerabilidades, é sinal de força, poder e humanidade! Em outras palavras, a máxima “vigiai e orai” cabe perfeitamente aqui, e também em qualquer outro âmbito da nossa vida! Afinal, se só orarmos, mas não ficarmos atentos aos próprios pensamentos, sentimentos e comportamentos, Deus não nos ajudará! Nós, seres humanos, nos relacionamos com (pré)conceitos, ideias e imagens sobre si mesmos, o outro e o mundo. Por exemplo, se estamos passando por uma fase em que as coisas não estão indo muito bem e nos sentimos ansiosos e angustiados, é natural estarmos mais carentes de escuta, atenção e segurança. Nestas condições, se falarmos um bom dia para alguém que, por infinitas razões, não prestou atenção em você, a tendência da nossa mente é de associar aquele “tratamento” à “realidade” percebida do momento. Nestas condições, com necessidades de atenção e escuta não preenchidas, tendemos a interpretar o outro pelo comportamento de desatenção, levar para o lado pessoal e julgá-lo como alguém indigno de respeito, e passamos a tratá-lo tal e qual! Pronto, a máxima de que “o mundo corporativo é tóxico” está profetizada e realimentamos padrões de comportamento de luta, fuga ou paralisia diante de um ambiente hostil e ameaçador! Em outras palavras, ativamos nosso cérebro reptiliano, o sistema nervoso simpático é estimulado para assegurar nossa sobrevivência e segurança neste “ambiente hostil”, a adrenalina e o cortisol se elevam, coração acelera, levamos as questões para o lado pessoal, e tudo e todos se tornam ameaçadores. Afinal, é o outro que te desrespeitou ou você que se sentiu desrespeitado pelo que o outro fez, ou deixou de fazer? O que veio primeiro, o ovo ou a galinha? Somos seres sociais e, na vida, representamos vários papéis! Cada “personagem” , ou “chapéu”, que você veste, assume certos padrões mentais, emocionais e comportamentais entendidos como “coerentes” e “congruentes” com cada papel que representa na vida. O que é adequado no papel de pai no relacionamento com os filhos pode não ser tão adequado para um papel de líder no relacionamento com a sua equipe, e assim por diante! O desafio é manter em perspectiva, e respeitar, seus valores, independentemente dos papéis que representa na vida! Moral da história: para preservar a sua saúde física e mental, é importante manter em perspectiva a autocompaixão. O ponto de partida para dominar e lidar com o excesso de sofrimento, e também de prazer, e todas as emoções que envolvem nossa jornada, é buscar a consciência de se aquilo que está te trazendo sofrimento é real ou, em grande medida, fruto das interpretações e suposições que você faz sobre si próprio, o outro e o mundo! Afinal, nossos julgamentos são, via de regra, expressões de necessidades, muitas vezes inconscientes, não atendidas. Procure então fazer pausas sagradas durante o dia, respire e se pergunte: o que eu mais preciso neste momento está sendo atendido? O que você pode fazer com esta consciência, só Deus sabe… “Enquanto não se tornar consciente, o inconsciente conduzirá sua vida e você irá chamá-lo de destino” Carl Gustav Jung
QUEM SOMOS NÓS?
A INTELIGÊNCIA POR TRÁS DOS COMPORTAMENTOS
Todo comportamento tem uma intenção positiva, na perspectiva de quem age, de atender necessidades e valores. Sendo estratégias para atender nosso bem-estar, os comportamentos mudam de acordo com as prioridades e sua efetividade, e não somos, portanto, o que fazemos. O que fazemos é reflexo do que precisamos e de como estamos nos sentindo, a cada instante. O que podemos fazer está além da nossa consciência. A consciência das nossas potencialidades para atender nossas necessidades e valores é fruto da aprendizagem. E consciência não encontramos nos livros, em mestrados, doutorados, no outro, nem nas tecnologias de inteligência artificial. Consciência é experiência!
“Quem olha para fora sonha. Quem olha para dentro, desperta”. Carl G. Jung